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Psicanálise e Psicoterapia

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Prezados leitores.


Hoje estamos reproduzindo abaixo um texto publicado há algum tempo porque consideramos que seu teor é relevante para a compreensão da diferença entre psicanálise e psicoterapia. Mas também, visando esclarecer que muitas vezes o psicanalista está fazendo algo que se aproxima de uma psicoterapia, mas não uma psicoterapia estranha ao reconhecimento da subjetividade do cliente e, portanto, de sua condição de Sujeito de Desejo. 


O que acontece é que, por vezes, o sujeito que procura o psicanalista reconhecido como tal, não consegue conduzir-se no processo analítico como sujeito de análise, isso por um tempo curto, médio ou longo, ou mesmo definitivo, enquanto o psicanalista não consegue com esse paciente ultrapassar as barreiras de sua resistência e talvez esteja refém de sua própria contratransferência. 


Nesses casos o trabalho se apresenta com constantes “escapes” em relação à técnica psicanalítica, sustentando-se a intervenção no que podemos denominar psicoterapia de orientação psicanalítica. O que diferencia esta psicoterapia das demais formas de psicoterapia, de modo geral diretivas, é que essas não dão ao sujeito da demanda o estatuto de senhor de seu desejo enquanto a proposta psicanalítica é antecedida pelo desejo de analista, de ao sujeito da demanda dar esse estatuto. 


Embora não consiga realizar a passagem do encontro clínico, de uma condição inicial de atendimento da demanda psicoterápica para uma condição de análise, o psicanalista mantém o desejo de analista, ou seja, está à espera de uma “passagem” em direção ao inconsciente, uma abertura para o início da análise. O analista mantém seu desejo de analista enquanto o psicoterapeuta permanece retido no desejo de atender uma demanda de terapia. 


A clínica psicanalítica: psicanálise ou psicoterapia? 

É comum encontrarmos pessoas que não conseguem diferenciar o que seja a Psicanálise em relação às psicoterapias. Pretendo neste momento dirimir algumas dúvidas.

Inicialmente, cabe distinguirmos o que seja a Psicanálise como campo teórico relativo à organização psíquica humana em comparação à sua aplicabilidade no tratamento das neuroses. Cabe também fazer a distinção entre o que seja um atendimento denominado Psicanálise e um atendimento denominado psicoterapia de orientação psicanalítica.

Freud, a partir dos atendimentos clínicos bem como da pesquisa e discussão dos processos terapêuticos por ele aplicados no tratamento de pessoas acometidas de neuroses graves, realizou a construção de um campo teórico que se sustenta na prática. Contudo, a sua prática evoluiu a partir de suas reflexões e discussões relativas a essas experiências, o que favoreceu a construção do arcabouço teórico da Psicanálise. Falamos de um capo teórico construído a partir da prática e de uma prática que dá corpo ao campo teórico. 

Acontece que o campo teórico assim construído é suficientemente amplo e profundo para dar sustentação a um modo de compreender o que se passa na alma do sujeito que nos revela o que o aflige, motiva, frustra, persegue, nutre etc. Falamos aqui do inconsciente humano bem como da passagem de conteúdos desse inconsciente para um âmbito consciente usando-se para tal uma “ponte” denominada em nossa língua com o nome de pré-consciente. 


Em outro momento já identificamos que a passagem do campo inconsciente para o consciente está originariamente impedida devido ao próprio fato de que o inconsciente não é consciente. Isto porque não há como “acontecer” o desvelar daquilo que não se sabe para tornar-se algo que se sabe, sem que esteja presente um agente intermediário com a função de disponibilizar uma “ponte” entre esses dois âmbitos. O encontro entre os dois paradoxos requer o intermediário que permita a acontecer dessa mesma “passagem”.

Pois bem, o Psicanalista ocupa o lugar de intermediário entre os dois âmbitos que vimos discutindo e, também, de intermediário entre as duas instâncias psíquicas que Freud identificou em um segundo momento de sua obra com os nomes de ISSO e EU.  O Psicanalista está ai, perante um sujeito que de si não sabe o que deveria saber, para facilitar-lhe de si saber o que lhe falta saber e isso implica em desvelar o que está na condição de não-sabido, embora não saiba o que cabe nos campos que poderiam ser designados com os nomes de saber de si e de si não saber. 


O Psicanalista, então, está ai como construtor de estradas, que estende uma ponte entre inconsciente e consciente bem como entre ISSO e EU. Essa ponte tem dois nomes: pré-consciente e ?. Sim, pré-consciente como aquilo que está ainda na condição de tornar-se consciente, mas, também interrogação como aquilo que vai dar num saber que é para sempre dúvida de saber. E, se a um saber pudesse chegar, esse seria a de um não-saber. Diferente de tudo que antes foi dito do Psicanalista, outra coisa seria aquilo de um profissional que já antes sabe do sujeito analisando embora este de si não saiba. Esse profissional não coloca a dúvida e, em outro sentido, vem com a certeza. Contrapõe à dúvida do paciente uma certeza de autoridade que do outro sabe embora dele pouco saiba. Como resultado, o paciente perde a oportunidade de colocar-se perante a dúvida, o que constitui importante prejuízo, pois a dúvida é a porta da análise.


É no não-saber que encontramos o Psicanalista e é no saber que encontramos o psicoterapeuta. Nesse sentido, lembramos que o olhar que vem do próprio analista lhe diz que ele ocupa o lugar de sujeito-saber, embora lhe diga também que a análise termina quando ele desocupa esse lugar. 


Dr. Juan Adolfo Brandt

Economista e Psicólogo.

Psicanalista Titular: Instituto de Pesquisa em Psicopatologia e Psicanálise – IpePP Brasília

Mestre e Doutor em Psicologia Social pela USP

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